Os «bons» exemplos da <i>troika</i>
Letónia e Irlanda são amiúde apontados como dois «bons» exemplos de que as políticas de austeridade permitem a curto ou médio prazo sanear a economia e retomar o crescimento. Mas será assim?
Receitas do FMI deixam povos exangues
Os sinais exteriores mostram efectivamente que a Letónia irá crescer quatro por cento em 2011 e que a Irlanda, embora tenha um crescimento insignificante este ano, poderá crescer dois por cento em 2012, prevendo-se que a taxa possa aumentar nos anos seguintes.
Os economistas e políticos burgueses louvam com regozijo estes indicadores e apresentam-nos como a prova de que as suas «inevitáveis» receitas funcionam. Todavia, estes números escondem uma realidade bem diferente.
Depois do ajuste fiscal, que representou 16 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), e dos cortes salariais no sector público, de 25 por cento, o governo letão conseguiu reequilibrar as contas públicas, cujo défice chegou a atingir os 20 por cento. O reverso foi a brutal queda de 25 por cento do PIB, entre 2008 e 2010. Ou seja, em cerca de três anos perdeu um quarto da sua riqueza anual. Mesmo que se mantivesse o ritmo actual de crescimento, só dentro de seis anos a Letónia recuperaria o nível de 2007.
Entretanto, mais de cinco por cento da sua população de dois milhões de habitantes já emigraram, na sua maioria jovens, e a sangria continua ao ritmo de 40 mil por ano, dado que o desemprego se mantém acima dos 16 por cento.
Também na Irlanda, o «êxito» dos programas do FMI é altamente duvidoso. Até agora as medidas anti-sociais traduziram-se na redução de dez por cento dos custos laborais unitários (salários e outros) e na escalada do desemprego, de 6,5 por cento para 14,4 por cento, sendo que um em cada dois desempregados é de longa duração.
Neste país de 4,2 milhões de habitantes, a perda de poder de compra está reflectida na acentuada quebra da procura interna, calculada em 29 por cento desde o início da crise, e na impossibilidade de 300 mil famílias pagarem as suas hipotecas pela habitação. Ao mesmo tempo, o investimento caiu 72 por cento e o PIB afundou-se 18 por cento desde 2008.
Neste contexto de depressão, cerca de mil jovens irlandeses abandonam o país todas as semanas e milhares de imigrantes polacos e checos vêem-se forçados a regressar às suas pátrias.
Só as companhias multinacionais instaladas no país, como a Google ou a Bayer, lucram com a redução dos salários e a diminuta tributação fiscal, que continua a vigorar na Irlanda. Mas as multinacionais não reinvestem os lucros e a economia não cresce, o que torna a dívida impagável mesmo para aquele que já foi chamado o «tigre celta».